domingo, 10 de dezembro de 2023


Não sei mais lidar com a raiva. Tudo me estressa em um nível que não deveria estressar. Ando rabugenta, xingando. chorando. Tenho raiva de tudo e de qualquer coisa. Me odeio cada vez mais. Odiei minha mãe por dias por não aceitar que as coisas precisam ser felizes. Odeio o natal. Odeio quem deseja o meu melhor. Acho que já tive raiva de todas as pessoas que eu conheço. Ninguém entende o que eu digo quando falo sobre cansaço. Só sinto desespero e aos poucos me entrego na esperança de uma hora não sentir nada. Estou tão frustrada que não sei repetir outra coisa. Detesto me abrir com alguém. Sinto tristeza e um arrependimento ainda maior por ver que ninguém me entende, que ninguém nunca vai me entender. Eu sou horripilante por dentro. Agradeço pelos meus pensamentos nunca terem tido uma forma física. Eu sou uma alma feia repleta de coisas feias preenchida de sentimentos feios, mas, mesmo assim, nunca pedi piedade a ninguém, e não gosto de quando insistem em me confortar, também nunca pedi conforto. Pensar em um futuro melhor só me assusta, porque conheço o tempo como objeto de tortura, aterrorizador. Ter tempo é dar voz aos pesadelos escondidos na gaveta da memória. Queria ter deixado de existir há muitos anos. Eu não tenho sonhos para levar. Estou vazia aguardando. Sinto cada vez mais vontade de ficar só quando percebo que a amargura é só minha. Não acho que um dia vou ser feliz. Não quero felicidade, tudo o que me preenche é medo. Tenho medo de me curar e mudar quem eu sou. Não podem tirar tudo de mim. Não podem tirar eu de mim. Pensar que estou perdendo o controle é o mesmo que raciocinar que estou perdendo a minha pureza e capacidade de ser boa. Minha salvação quem traz é a Morte.