terça-feira, 14 de janeiro de 2025

“As rãs” de Mo Yan

“Por que a palavra ‘wa’ pode significar tanto ‘rã’ como ‘bebê’? Por que o choro de um bebê que saiu do ventre da mãe é parecido com o coaxo de uma rã? Por que os bonecos de barro da nossa terra muitas vezes têm uma rã no colo? E por que a deusa criadora da humanidade se chama Nü Wa?”

A autoria desse romance dá-se por Guan Moye, nome por trás do pseudônimo “Mo Yan”, um chinês que alfabetizou-se na literatura através da influência da biblioteca da casa do tio-avô e das rodas de conversa com os mais velhos da sua aldeia. Aldeia essa que, inclusive, é o cenário principal de muitas das histórias que ele se propõe a criar. Pode-se dizer que os relatos ouvidos entre os sussuros dessas conversas foram o início das explosões de pontos dos quais ele agora revive entre própria narrativa. O mais famoso desses relatos, o principal dessa história, é a campanha “Um não é pouco; dois é bom; três é demais”, lançada pela Nova China em 1965, em um período em que as crianças brincavam de comer carvão para enganar a fome.

Cuidadosamente, nessa história, Mo Yan preocupa-se em reconstruir o antes, o início, o meio e o agora atual da política do filho único na China. No papel de “Corre Corre”, um militar aspirante a escritor, ele vê a figura de “Tia Coração” como heroína central, dando vida à observação dos detalhes de suas vivências, buscando criar uma peça de teatro onde a própria Tia Coração é o impacto dela. 

Já do outro lado, ainda no início dessa narrativa, Tia Coração, a primeira parteira da aldeia a estudar obstetrícia e uma quase representação do amor entre eles, é corrompida pelo ofício de “Responsável pelo controle da natalidade” dado às parteiras da época. Assumindo a autoridade de um general até o fim dessa história, realizando implantações forçadas de DIUs em mulheres, vasectomias em homens, e abortos obrigatórios, mesmo em estágios avançados de gestação. Com isso, Tia Coração deixa de contar as vidas iniciadas pelo carinho das suas mãos para se tornar assombrada pelas vidas interrompidas. As rãs, cujo ideograma em chinês se assemelha ao de “bebê”, tornam-se fantasmas de vingança, ecoando o trauma e o remorso que a perseguem.  

“Minha tia disse que, em dezenas de anos de prática da medicina, ela havia se movimentado inúmeras vezes à noite sem ter medo, mas naquela noite foi assaltada pelo terror. ‘O coaxar das rãs é muitas vezes comparado ao bater dos tambores’, disse ela, ‘daquela vez, porém, parecia mais uma sucessão de soluços, o choro de milhares, dezenas de milhares de recém-nascidos’. No passado ela amava aquele choro mais do que tudo, para uma parteira o choro de uma criança é a música mais linda do mundo! Mas no som daquela noite havia ressentimento e recriminação, era como se as almas de um número infinito de recém-nascidos denunciassem os erros que haviam sofrido.”

Minha personagem favorita é, com toda certeza, Wang Renmei. Ela representa uma pureza e uma bondade que eu nunca vou conseguir alcançar.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

arquivos do bloco de notas

23 de agosto 2023
Não sou filha de Netuno e nem tenho os cabelos esverdeados, muito menos sei tocar violino e não tive a sorte de herdar o Triton Castle, a vida seria menos dolorosa se o meu principal refúgio não fosse me imaginar como uma violinista dos anos 90...

26 de agosto de 2023
Me pergunto se algum dia a chatice passará a ser sinônimo de charme. Senti que poderia ter chorado de estresse hoje. Alguém foi legal comigo e os meus pulmões pararam de funcionar (precisei respirar muito, achei que ia desmaiar). Pensar que sou reclamona é mais insuportável que realmente ser. Precisei ler três edições de uma revista para perceber que já estava melhor. Queria que o tempo retrocedesse, mas ele não retrocede. Acho fotografia monocromática muito legal. Acho que escrever demais é cansativo quando quase todo mundo já é barulhento o suficiente. Matei quem eu era e agora tô chateada por não ser eu mais. Queria ter tido a chance de viver escrevendo nas paredes das cavernas, pouparia a minha necessidade de ser sincera sobre quem agora eu sou. Não sou uma pessoa completa, acho que nunca serei. É bom? Deveria ser ruim? Por que continuo existindo aos sábados? Nem eu sei!

12 de setembro de 2023
para o primeiro esperançoso do mundo:
me pergunto o quão sem vergonha alguém precisa ser para enganar os bons corações com a falsa proposta de que um dia as coisas irão melhorar, se queremos avanço, então a melhor solução é oficialmente cancelar a frase “esse mês/ano não deu, mas o próximo será melhor”, que otimismo infernal...
estou sentindo raiva ao lembrar que alguém pode estar respirando ao mesmo tempo que dou meu último suspiro do dia... olhar para tantas pessoas e sentir meu coração explodir... é, eu ainda estou sofrendo os efeitos do estresse, quem será o meu alvo hoje? porque tenho certeza que meu sono será afetado nessa noite... ou eu estarei fazendo uma boa ação comigo mesma e escondendo o meu celular de mim? maldito sonambulismo...

19 de setembro de 2023
Sakuya Izayoi (do Touhou 6: The Embodiment of Scarlet Devil) é filha de Dio Brando!!! Disso ninguém me tira a razão!!

19 de setembro de 2023
é sempre a mesma resolução: você erra, começa a receber ódio como resposta as coisas que fez e só então aparece arrependido e prometendo mudança, bobo é quem ainda insiste em acreditar em qualquer palavra que você diz

20 de setembro de 2023
querendo saber QUEM foi que machucou o coração do pizzaiolo, porque não é possível uma pessoa sã colocar tanta cebola em uma fatia só e ainda conseguir DORMIR TRANQUILAMENTE hoje

28 de setembro de 2023
I want to say that I'm out of air, but there's plenty of it around. It's just that no matter of much I breathe in, there doesn't seem to be enough. Almost as though I am missing something else entirely.

14 de outubro de 2023

Fui bordada pela Rafaela da Rocha em 31 de julho de 2023, “Tudo me preocupa”


tudo me preocupa, tudo me assusta, não consegui deixar de pensar nisso enquanto cozinhava: meu deus, tudo me preocupa


















14 de outubro de 2023
aos que acharam que colar o carregador com super bonder já era insanidade/sem-vergonhice/mesquinhez demais da minha parte, hoje tive que fazer um curativo no meu headset com esparadrapo

16 de outubro de 2023

16 de outubro de 2023
Que hoje os meus astros estejam desalinhados. Que o mercúrio esteja sei lá no que e sei lá o que mais também. Estou buscando algo para culpar.

28 de outubro de 2023
“Desde aquele momento até agora, e para sempre, meu coração é todo teu. Se quiseres comê-lo, não hesitarei em arrancá-lo para depositá-lo em tuas mãos. Fascinam-me teu rosto corado, teu nariz vívido, teus lábios delicados, teus cabelos em desalinho, teus olhos brilhantes, fascinam-me tua voz, teu cheiro, teu sorriso. Esse teu sorriso me dá vertigem, vontade de me ajoelhar no chão, abraçar tuas pernas e admirar teu rosto risonho. Aonde fores, irei também, vou me ajoelhar no chão para beijar as tuas pegadas, e ficarei em pé diante da tua janela fitando a luz dentro do quarto, do momento em que ela se acende até o momento em que se apaga, quero ser uma vela e queimar por ti, queimar até o fim.” FROG (蛙), 2009. Mo Yan.

5 de dezembro de 2023
inacreditável como um homem tão feio ainda é merecedor do perdão para algumas pessoas

23 de dezembro de 2023

8 de janeiro de 2024
Detesto mensagens em grupo, é por isso que participo de quase nenhuma. Essa semana fui adicionada em uma conversa e cometi o mais bobo erro de ter auxiliado todo mundo errado durante a partida. Nunca mais vou ficar online de tanta vergonha pqp...

11 de janeiro de 2024
Ontem eu estava muito triste porque gastei muito dinheiro, então hoje eu fui ao shopping e gastei mais ainda

8 de abril de 2024
Sou oficialmente membro da oficina do bolo. 2. Não aguento mais comer bolo. 3. Já é o meu quarto dia negando um convite para a confeitaria e mesmo assim toda noite estou lá. 4. Como bolo diariamente há quase dois meses. 5. Amanhã vou fechar os olhos, virar a esquina e não entrar em confeitaria nenhuma. 6. Minhas amigas disseram que não sabem como eu aguento (eu não aguento). 7 Esse é um lembrete pessoal de “Não comer mais bolo”. 8. Por que todo mundo é fissurado em figurinha de macaquinho no Whatsapp?

10 de maio de 2024
1. O melhor dia da minha vida foi: Quando a minha mãe me abraçou forte e me contou todas as histórias da minha infância e disse que sempre admirou a pessoa que eu sou. 

2. O pior dia da minha vida foi: Não costumo guardar as lembranças ruins, mas, acho que no meio de tudo que tenho na caixa da memória, as piores foram os muitos momentos em que meus sentimentos tomaram o lugar da razão.

11 de maio de 2024
sonheu wue a Duda surtwva e ua oarar no hospital fin o Thalisson 
ai e mummm fui qhudar
e xonecou a xhicer muito muiiro
w di nada ebrraran dkibwa xkones sa nibha gata em casa
(escrevi isso ainda dormindo, tenho quase certeza!) 

27 de maio de 2024
(uma conversa engraçada)
Canalha da Silva: eu paguei.
Eu: (e pediu emprestado dnv)
Canalha da Silva: tem quanto hj?
Eu: nada
Canalha da Silva: nossa sua pobre lascada vai trabalhar

24 de junho de 2024
não muito, mas não muito pouco No mucho, pero no poco, lo que mi billetera pueda soportar.

30 de julho de 2024
fiquei trocando gestos e sorrisos da janela do ônibus com uma criancinha que gritava e acenava para mim na rua

11 de setembro de 2024
Sou um cientista. O meu papo é futurista, é lunático. Tenho alma de artista. Sou um gênio sonhador e romântica. Sou aventureiro desde o meu primeiro passo para o infinito.

6 de novembro de 2024
Creo que yo pertenezco a los corazones más que a los lugares
mi alma está hecha de
flores olvidadas
esperando cada día
olvidar
la soledad.

30 de novembro de 2024
Hoje o mundo recebeu a notícia bombástica sobre o NewJeans e hoje também o meu amigo veio me buscar às 18:27 para sairmos, tocando ‘Attention’ no volume mais alto possível dentro do carro e dizendo “Estamos vivendo em uma ditadura”

1 de dezembro de 2024
Arrumando os mangás da estante e me sentindo uma criança novamente, relembrando do quanto que eu adorava comprar revistas e quadrinhos sempre que saia com os meus pais. É uma pena que hoje em dia seja tão difícil encontrar as bancas novamente nas ruas. Lembro também de quando eu não sabia contar até cem. Minha mãe tentava me ensinar retirando a minha revista de figurinhas da Rapunzel de perto de mim


quinta-feira, 26 de setembro de 2024

meu relato favorito da revista fracasso

Tem esse cara do andar de baixo. Eu não conheço ele, não sei o nome dele, nem a nacionalidade. Uma vez ele reclamou que a gente estava jogando bitucas de cigarro no pátio dele (não era a gente, era o cara do quarto do andar de cima, o François). Mas isso nem é muito importante. 

Durante a pandemia, esse cara decidiu construir do nada no pátio dele um novo espaço, com um piso e uma casinha pequena nos fundos. E ele construiu. Ele e o filho dele. Eu acompanhei a construção. Ele começou limpando o terreno. Depois ele foi trazendo coisas como cimento e estacas e outras coisas que eu não sei o nome, porque eu não sou um cara que sabe coisas sobre construção. E eu tenho (ou um tinha) uma sacada по quarto onde eu pude ver a evolução gradual e contínua do projeto dele. Eu não sei se ele já tinha isso em mente, e se o que ele pretendia pôde ser feito, porque ele tinha tempo por causa da pandemia, acredito que sim, é uma teoria plausível. E muitos dias eu sentava ali fora, porque era o início da primavera e começava a fazer uns dias toleráveis, e ele passou a me cumprimentar. Era apenas um “Hello!” e eu respondia com “Hello!” ou às vezes com um “Hi!”, mas, de alguma forma aquilo, não sei como dizer, não foi algo extraordinário onde minha vida mudou ou eu tive um insight, mas foi bom. 

Uma vez ele me perguntou de onde eu era e eu disse que era brasileiro e ele falou “Ah, obrigado!”, eu ri e disse que era isso mesmo. Ele não é inglês, como disse antes, não sei nada sobre ele. Mas de alguma forma, por causa dele, eu pude ver como uma coisa passa de uma ideia para uma coisa concreta, real. E como ele foi fazendo isso todos os dias. Todos dias eu penso em elogiar e dizer que ele fez um bom trabalho, mas tenho vergonha. Não sei se vou conseguir dizer isso algum dia para ele. Mas ele também nem precisa. Ele fez um bom trabalho.