“Envolvido em disputas políticas entre as famílias dos Guelfos e Gibelinos, acabou por ser traído e aprisionado, juntamente com os seus filhos, no interior de uma torre na cidade italiana de Pisa. O encarcerador atirou da chave da entrada para um rio próximo e depois, com o avançar dos dias, deixou de ser dada comida e ouviu-se um barulho: o som de “alguém” murando a entrada da torre.
Os dias foram passando. O medo e a incerteza deram lugar à fome. E então, tomou lugar o derradeiro dos pecados de Ugolino della Gherardesca. Cheios de fome, em enormíssimo desespero, os filhos pediram-lhe ajuda e à medida que as horas passavam, enquanto estas crianças imploravam mais e mais pelo auxílio paterno, ele colocou as mãos na boca e mordeu-as com força, para não ter de gritar. Não compreendendo o que se passava, as crianças lhe disseram "Pai, seria bem menos doloroso para nós se nos comesses: tu nos vestiste destas míseras carnes, delas podes nos despojar. Pai, não te comas! Se tens assim tanta fome, come um de nós...!" mas ele manteve-se calado como sempre.
Passaram-se três luas e estes filhos faleceram em virtude da sua fome, Ugolino viu-os caírem um a um. Nos dois dias seguintes, já cego, arrastando-se até eles, apalpa-os e os chama pelos nomes. Depois, ele também se foi, esfomeado.
No inferno, por toda a eternidade, Ugolino revira os olhos e volta à sua horrenda ocupação, roer o crânio do arcebispo Ruggieri degli Ubaldini como vingança. Ruggieri é o antigo aliado político que o traiu, prendendo-o numa torre.”
Acho que essa é a minha história favorita de A Divina Comédia pois eu também sinto que estarei no inferno por ser incapaz de desapegar desse sentimento, remoendo todas as mágoas que tenho por uma pessoa. Já cheguei a ter surtos de raiva só lembrando dela. Queria poder te odiar tanto até um dia esse sentimento deixar de existir em mim.